A divulgação da troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), e Fabio Wajngarten, ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) e parte do corpo jurídico do ex-presidente, causou incômodo e uma crise no clã Bolsonaro, que avalia o nome da ex-primeira-dama para candidatura ao Planalto em 2026.
A conversa, datada de 27 de janeiro de 2023, um dia após Michelle voltar de Orlando, onde fugiu com o marido no dia 30 de dezembro de 2022, antes da posse de Lula, mostra a antipatia que um grupo próximo a Bolsonaro nutre pela ex-primeira-dama.
Cid estava com Bolsonaro nos EUA e recebeu de Wajngarten a notícia de que Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, estaria cogitando lançar Michelle candidata à Presidência em 2026.
Em tom de chacota, Cid responde: “Prefiro o Lula”, com uma “hahahahahahaha”, de gargalhadas, em seguida. Wajngarten reage: “idem” – veja as mensagens.
Nenhum dos envolvidos no caso, que foi tornado público nesta sexta-feira (16) pelo portal Uol, não se manifestou. Michelle, no entanto, apareceu sozinha na festa de luxo promovida pela influenciadora bolsonarista Bella Falconi, que celebrou seus 40 anos em Belo Horizonte.
Além de Michelle, apenas Nikolas Ferreira (PL-SP) estava com a família no regabofe, que reuniu a burguesia da capital mineira e amigos da influenciadora.
A influenciadora fitness e o marido, Ricardo Maguila, fizeram parte do time de influenciadores da campanha de Bolsonaro em 2022. Em 2023, ela disse em entrevista à Jovem Pan que se aliou à ultradireita neofascista porque não existe “comunista cristão”.
“Se você está em cima do muro, vai ser empurrado. O cristianismo é sobre isso, é sobre posicionamento. A gente não é santo; erra e falha. Toda hora peca em pensamento, mas eu tento viver em acordo com a palavra de Deus. Pelo menos posso usar dessa oportunidade para falar de ideologia de gênero, marxismo cultural”, disse à época a musa fitness, que tem mais de 4 milhões de seguidores no Instagram.
Sem Bolsonaro
Em rápida entrevista à aniversariante, publicada nos stories do Instagram, Michelle Bolsonaro não explicou a ausência do marido, se limitando apenas a dizer que “Jair mandou um beijo para você”.
“Um beijo presidente querido. A gente te ama. Nos meus 50 você vem, tá?”, disparou a influenciadora.
— Revista Fórum (@revistaforum) May 17, 2025
Nas redes, Michelle e Jair Bolsonaro não se pronunciaram sobre a divulgação da troca de mensagens em que Cid e Wajngarten fazem chacota com a ex-primeira-dama e levantam a questão sobre o passado dela. Em entrevista, o ex-presidente disse que os dois aliados “falaram besteira” e sinalizou que haverá caça às bruxas sobre os ataques a Michelle.
Na conversa, o ex-Secom, homem de confiança de Bolsonaro, passa a detonar a ex-primeira-dama, compartilhando uma mensagem que dizia que o “PL vai pagar 39k por mês para a Michele (SIC) ‘porque ele carrega o bolsonarismo sem a rejeição do Bolsonaro”. Em seguida, outra mensagem encaminhada por Wajngarten indaga: “em que mundo o Valdemar está vivendo?”.
Cid, então, manda um áudio, transcrito na troca de mensagens, revelando o que pensa da ex-primeira-dama. “Cara, se a dona Michelle tentar entrar pra política num cargo alto, ela vai ser destruída, porque eu acho que ela tem muita coisa suja… não suja, mas ela né, a personalidade dela, eles vão usar tudo contra pra acabar com ela”.
Em 5 de fevereiro, os dois voltam ao assunto após Cid enviar uma reportagem sobre a possível candidatura de Michelle.
Wajngarten então expõe a Cid uma suposta conversa com Bolsonaro sobre o assunto. “Cada vez que expõem a Dama para um diferente aventura. Falaram até agora que ela seria vossa sucessora e concorreria para Presidência. Agora falam no Senado Rio e SP”, diz o ex-Secom, que mostra a Cid uma indagação que teria feito ao ex-presidente. “Tem anuência do Sr?”.
“Ele me ligou na hora”, emenda Wajngarten, sem revelar o conteúdo da conversa.
Cid aproveita a deixa e faz mistério sobre o que pensa de Michelle: “E ela tem muito furo… Muita coisa para queimar… inclusive no passado”, afirma.
Desespero em live
Mais cedo, em entrevista a canal bolsonarista, o ex-presidente mostrou certo desespero e previu a própria morte, caso seja condenado e preso. “Não sei até quando vou resistir, vou morrer, não vai demorar”, disse, em um misto de vitimismo e pânico.
“Com 70 anos de idade e com a perspectiva de cumprir até 40 anos de prisão, sem mais recursos ou alternativas, vou morrer dentro da cadeia”, emendou.
Bolsonaro ainda citou a condenação recente da deputada Carla Zambelli (PL-SP) por falsidade ideológica e invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, além da investigação envolvendo o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos ligados ao mesmo inquérito, para argumentar que esse seria um exemplo do que ele chama de “ativismo judicial”, que teria como objetivo “inviabilizar candidaturas da direita” para as eleições de 2026.
“Me prendam. Tenho 70 anos, quase morri numa cirurgia. Não sei até quando vou resistir,” reforçou outra vez.
Na mesma entrevista, o ex-presidente insistiu na teoria de que não teria nada a ver com a tentativa de golpe de Estado porque estava nos EUA em 8 de janeiro de 2023, chamando o episódio de “golpe da Disney” – assista.
Revista Forrum