Enquanto algumas escolas de samba vivem uma invasão de influencer e celebridades, a madrinha da Dragões da Real – Simone Sampaio – defende com afinco mais oportunidades para as chamadas meninas e mulheres que vivem o dia a dia das quadras de samba.
Menina de comunidade que cresceu nas quadras das escolas de samba paulistanas e alcançou o auge como rainha de bateria da Dragões por quase uma década, a musa subiu cada pequeno degrau em quase 30 anos de samba paulistano e afirma que é preciso mais meninas como ela – negras, belas e com raízes no samba – dentro das quadras carnavalescas de São Paulo.
“Penso que [o carnaval] é a nossa herança ancestral, defendida com muita maestria pelos seus herdeiros. E deveria ser natural que os primeiros a serem pensados para o posto de Rainha e destaque seja da comunidade por herança e mérito, dos que são soberanos em defender um pavilhão”, disse ao g1 pouco antes de desfilar nessa sexta-feira (28).
“O carnaval é um espetáculo construído por muitas mãos, por muitos corações. Eu sempre vou defender que as meninas da comunidade, que vivem e respiram o samba, sejam reconhecidas e valorizadas. Elas estão nas quadras, nos barracões, nos ensaios debaixo de sol e chuva, carregando essa festa no peito”, completou.
Embora não condene a chegada das celebridades e influencers dentro das escolas, ela afirma que essa nova turmas de fora deve viver mais a rotina das comunidades durante o ano.
“Mais do que a posição de rainha, o que realmente importa é o compromisso com a escola. O mestre-sala, a porta-bandeira, a velha guarda, cada passista, cada ritmista, cada costureira… Todos têm sua importância e fazem essa engrenagem funcionar”, declarou.

“O Carnaval é gigante porque cada um desses artistas coloca sua alma na avenida. Então, quem chega com verdade, com respeito e para agregar, deve sim ser celebrado, a escola tem muitos postos! O Carnaval é também um espaço de acolhimento, onde quem chega para somar e respeitar deve ser bem-vindo”, afirmou.
Simone Sampaio foi rainha de bateria da Dragões entre os anos de 2012 e 2021 e atualmente é a madrinha da escola dos últimos quatro anos. Quem frequenta os ensaios na quadra da escola aponta com 100% de certeza que ela é a figura mais popular da agremiação.
Ao final dos encontros, a comunidade faz fila para abraçá-la e tirar fotos. Ela atribui esse assédio ao comprometimento que tem com a comunidade que faz o cotidiano da escola.
“O que eu trago de mais valioso é minha história, minha trajetória e minha entrega absoluta, construída por orientação e exemplos de grandiosos baluartes do Samba. São 30 anos de amor, dedicação, conexão com o sambista, resistência. Cada um desses anos está representado na minha emoção ao cruzar a avenida”, disse ela ao g1.
Nesses quase trinta anos de samba paulistano, a musa da Dragões conquistou o título de “Rainha das Rainhas do Carnaval de São Paulo”, em razão da simpatia, da conexão e identidade com o samba paulista.

É um título que, segundo ela, “é um compromisso com a história” do samba de São Paulo.
“É um título que carrego com muito orgulho. Não é apenas um título, é um compromisso com a história do nosso samba, com as majestades que vieram antes de mim e com as que virão depois. Eu sigo firme, junto às demais rainhas, defendendo a bandeira da nossa arte e da nossa cultura, porque ser majestade no Carnaval vai muito além do que brilhar na avenida – é carregar consigo a missão de preservar e fortalecer a nossa tradição”, afirma.
E apesar das três décadas dedicadas às escolas paulistanas, ela diz com veemência que não pretende se distanciar dessa vida.
“Enquanto meu coração bater no compasso do tambor, eu estarei aqui. Seguirei sambando, celebrando e defendendo essa festa que me deu tanto. O tempo pode passar, os ciclos podem se renovar, mas meu amor pelo Carnaval é eterno”, avisou.
A Dragões da Real foi a terceira escola a entrar na avenida na 1ª noite de desfile das escolas de samba de São Paulo, nesta sexta-feira (28).
Neste ano, a escola comemora 25 anos de carnaval e transformou a passarela do samba em uma linda pintura para, assim, cantar o ciclo da vida de forma lúdica, inspirado pelos versos da música “Aquarela” de Toquinho.
O samba-enredo foi bastante sugestivo: “A vida é um sonho pintado em aquarela!”.
Veja a ordem das escolas do Grupo Especial de SP nos dois dias de desfiles da cidade:
Grupo Especial
Sexta-feira (28 de fevereiro) – 1ª noite
- 23h: Colorado do Brás
- 0h05: Barroca Zona Sul
- 1h10: Dragões da Real
- 2h15: Mancha Verde
- 3h20: Acadêmicos do Tatuapé
- 4h25: Rosas de Ouro
- 5h30: Camisa Verde e Branco
Sábado (1º de março) – 2ª noite
- 22h30: Águia de Ouro
- 23h35: Império da Casa Verde
- 00h40: Mocidade Alegre
- 1h45: Gaviões da Fiel
- 2h50: Acadêmicos do Tucuruvi
- 3h55: Estrela do Terceiro Milênio
- 5h: Vai-Vai
g1