Rebeldes sírios declararam ter deposto o presidente Bashar al-Assad após assumirem o controle de Damasco no domingo, forçando-o a fugir e pondo fim às décadas de governo autocrático da família de Assad após mais de 13 anos de guerra civil.
Em um momento de turbulência para o Oriente Médio, os rebeldes islâmicos também desferiram um grande golpe na influência da Rússia e do Irã na Síria, no coração da região — aliados que apoiaram Assad durante períodos críticos da guerra, mas que foram distraídos por outras crises recentemente.
Os rebeldes disseram que haviam entrado na capital sem nenhum sinal de mobilização do Exército. Milhares de pessoas em carros e a pé se reuniram em uma praça principal de Damasco acenando e cantando “Liberdade” depois de meio século de governo da família Assad.
As pessoas foram vistas caminhando dentro do Palácio Presidencial Al-Rawda, e algumas saíram carregando móveis de dentro dele.
“Comemoramos com o povo sírio a notícia da libertação de nossos prisioneiros e de suas correntes”, disseram os rebeldes.
O principal comandante rebelde, Abu Mohammed al-Golani, disse que não havia espaço para voltar atrás.
“O futuro é nosso”, disse ele em uma declaração lida na TV estatal da Síria depois que suas forças tomaram Damasco.
O ritmo dos acontecimentos surpreendeu as capitais árabes e levantou preocupações sobre uma nova onda de instabilidade em uma região já em tumulto após a disseminação do conflito depois do ataque liderado pelo Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e a consequente guerra de Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a queda de Assad foi um resultado direto dos golpes que Israel desferiu contra o Irã e seu aliado Hezbollah.
O presidente francês Emmanuel Macron disse que “o estado bárbaro caiu” e prestou homenagem ao povo sírio.
Tarefa assustadora
Quando as comemorações se dissiparem, os novos líderes da Síria enfrentarão a difícil tarefa de tentar proporcionar estabilidade a um país diversificado com facções concorrentes que precisarão de bilhões de dólares em ajuda e investimentos para se reconstruírem.
A longa guerra civil da Síria, que eclodiu em 2011 como uma revolta contra o governo de Assad, transformou cidades em escombros e matou centenas de milhares de pessoas.
As partes interessadas vão da Turquia aos Estados Unidos, dos islamistas aos curdos.
Um possível desafio poderia ser o ressurgimento do Estado Islâmico, que impôs um reinado de terror em grandes áreas da Síria e do Iraque e dirigiu operações externas durante seu auge.
O governo do presidente Joe Biden estava monitorando os acontecimentos, mas não ajustou o posicionamento dos cerca de 900 soldados na Síria até o momento, disseram autoridades norte-americanas à Reuters.
Ressaltando as mudanças relâmpago, a embaixada do Irã foi invadida por rebeldes sírios, informou a Press TV de língua inglesa do Irã.
O Irã, cuja elite da Guarda Revolucionária enfrentou ataques mortais de Israel na Síria, deu uma resposta comedida. O Ministério das Relações Exteriores disse que o destino da Síria é de responsabilidade exclusiva do povo sírio e deve ser perseguido sem imposição estrangeira ou intervenção destrutiva.
O Hezbollah, sediado no Líbano, que forneceu apoio crucial a Assad durante anos, retirou todas as suas forças da Síria no sábado, quando as facções rebeldes se aproximaram de Damasco, disseram duas fontes de segurança libanesas à Reuters no domingo.
Assad, que não havia se pronunciado em público desde o repentino avanço rebelde há uma semana, saiu de Damasco para um destino desconhecido no início do domingo, disseram à Reuters dois oficiais superiores do exército.
Seu paradeiro agora — e o de sua esposa Asma e seus dois filhos — é desconhecido. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que Assad havia deixado o cargo e partido do país após dar ordens para uma transferência pacífica do poder.
A coalizão rebelde síria disse que continuava trabalhando para concluir a transferência de poder no país para um órgão governamental de transição com plenos poderes executivos.
“A grande revolução síria passou do estágio de luta para derrubar o regime de Assad para a luta para construir juntos uma Síria que seja condizente com os sacrifícios de seu povo”, acrescentou em um comunicado.
Durante toda a guerra civil, as forças de segurança mantiveram centenas de milhares de pessoas presas em campos de detenção onde, segundo organizações internacionais de direitos humanos, a tortura era uma prática universal. As famílias geralmente não eram informadas sobre o destino de seus entes queridos.
Prisioneiros desnorteados e eufóricos saíram das prisões sírias no domingo, gritando de alegria.
Agência Brasil/ Reuters