O cultivo do cajueiro anão-precoce tem gerado lucro e transformado a agricultura familiar no município de Jacaraú, Litoral Norte da Paraíba. A planta, melhorada geneticamente, tem um ciclo mais curto, garante uma boa rentabilidade e o aproveitamento integral do fruto. No Assentamento Boa Esperança quatro agricultores participam do cultivo experimental do cajueiro e já colhem bons resultados.
Marcos Francisco de Oliveira, conhecido na região por Quinha, tem atualmente um pomar formado por 200 cajueiros, em uma área de três hectares, que rendem em média 45 caixas de caju por mês. A produção é vendida para supermercados dos municípios de Mamanguape, Mataraca e Jacaraú, porém, os planos do agricultor são expandir a produção e exportar o caju para outros países.
“Eu mesmo não pensava que ia ter isso que eu tenho hoje. Eu já plantei caju, desse comum, e a gente espera dois anos. Esse aqui com um ano já estava com frutos. Desde o mês de Santana (julho) que eu colho caju e ainda tem bastante fruto. Nós temos o apoio dos técnicos da Embrapa, que a cada 20 dias estão aqui nos dando capacitação, tem dois técnicos da Prefeitura de Jacaraú nos dando apoio também”, afirma Marcos.
No início do plantio, o agricultor chegou a duvidar que teria sucesso com o cultivo e foi questionado por outros agricultores da região.
“Eu não acreditava que ia dar isso que está dando. A gente plantou esse caju para colher a castanha, só que depois que teve fruto eu achei melhor vender o fruto do que a castanha, mais lucrativo”, explica.
Marcos também cultiva coco, acerola e laranja, mas foi no caju que visualizou uma atividade mais promissora. Presidente da Associação dos Agricultores do assentamento Boa Esperança, ele conta que busca crescer junto com os outros produtores do local.
O caju cultivado é fruto de um cajueiro anão melhorado desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Fortaleza e pela Embrapa Agroindústria Tropical e fooi levado para Jacaraú em uma parceria com a Prefeitura. Os estudos ocorreram através de seleção e cruzamentos de materiais selecionados em todo o Brasil. No assentamento são cultivados quatro clones de cajueiros diferentes, todos anãos, mas com características específicas.
“Nós temos o CCP 76, que é um dos primeiros clones que nós lançamos. Temos também o CCP 09, que é um cajueiro que responde bem à água, que vai bem nessa região e tem uma boa produtividade. Temos o BRS 226, que é um clone mais novo, lançado pela Embrapa, que tem uma boa rusticidade, uma boa produção. E temos o Embrapa 51, que também é um cajueiro de um porte, com característica de plantas mais robusta que as demais. O objetivo é ir testado esses quatro”, explicou Marlos Bezerra, pesquisador da Embrapa.
Entenda diferença entre cajueiro tradicional e o melhorado pela Embrapa
O cultivo do caju anão provoca impacto positivo na agricultura familiar, já que com pouca mão de obra é possível fazer o manejo do pomar. É possível conduzir os tratos necessários, até a colheita, além de garantir o aproveitamento integral. “Você poder colher o fruto e vender esse fruto para ir para mesa, para o supermercado, nas feiras”, explica Marlos Bezerra.
Ele ressalta que o fruto garante uma rentabilidade maior e se na propriedade, cooperativa ou associação de produtores da agricultura familiar é possível fazer o aproveitamento dos frutos não vendidos, a exemplo da venda da castanha, processamento do pedúnculo. Outra alternativa é a extração para produção da polpa e produção de suco, doces e compotas. “Uma série de produtos em que você agrega valor ao seu fruto”, pontua Marlos.
Ele explica ainda que o cajueiro anão não é cultivado em todo o Brasil e está concentrado no Nordeste, nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí. A Embrapa está expandindo o cultivo para Paraíba, Mato Grosso, Roraima, São Paulo e Minas Gerais.
O cajueiro comum, conforme o analista da Embrapa, é uma cultura praticamente semi extrativista, onde não há manejo das plantas, o produtor planta, aguarda crescer, esperar o fruto cair para coletar a castanha. No cajueiro anão o processo é diferente e ensinado pela Embrapa nas unidades demonstrativas: é feito o preparo da terra, adubação correta do solo e plantio das mudas enxertadas e de alta qualidade. É feita a condução da planta para que ela alcance um porte adequado e realizado o controle sanitário com o uso mínimo de químico quando necessário.
“Estamos em Jacaraú com quatro unidades de referência tecnológica em cajueiro, uma delas é a que está no assentamento Boa Esperança. Em cada uma dessas unidades, nós temos quatro clones diferentes de cajueiro anão que estão sendo testados na região para ver o que melhor se adapta. A gente espera que todos se adaptem para ter essa diversidade. Essas unidades são para que os produtores no entorno aprendam a fazer o manejo do pomar de cajueiro.
“Estamos ensinando principalmente como colher essa planta com aproveitamento integral do fruto, aproveitando a castanha, o pedúnculo e isso vai trazer uma agregação de valor, um benefício para quem cultiva o cajueiro, especialmente para os pequenos produtores” – Marlos Bezerra.
Caju se transforma para ser protagonista na culinária
O cultivo do caju em Jacaraú vai além da agricultura familiar e proporciona desenvolvimento e geração de renda também para quem aposta na transformação da fruta para incrementar receitas culinárias. A fruta, normalmente consumida como suco ou doces, é utilizada para bolos, como recheio de tapiocas, coxinhas, pastel e saladas, por exemplo.
A estudante de gastronomia Maiara Sousa enxergou a possibilidade de transformar o caju em diversos pratos através do desenvolvimento de receitas e técnicas. A castanha é transformada em um requeijão que chama atenção pelo sabor e textura e se tornou uma alternativa para alérgicos ao leite e veganos.
A ideia de inserir o caju em receitas elaboradas surgiu no ano passado, a partir do projeto de extensão na Faculdade FPB, onde estuda, chamado “Cozinha que educa e transforma”, chefiada pelo professor e chef de cozinha Tassio Medeiros. Foi para esse projeto que ela começou a desenvolver produtos do caju usando técnicas e práticas gastronômicas. O projeto tem como objetivo levar conhecimentos gastronômicos e sustentabilidade para pessoas carentes de João Pessoa.
“As pessoas são surpreendidas pela experiência gastronômica de experimentar algo feito com um ingrediente que elas só tomariam suco ou fariam doces. Até o presente momento quem provou amou”, contou Mayara.
Atualmente ela trabalha apenas com encomendas para eventos ou degustação com o tema da cajucultura. Ela e o sócio fundador do projeto, Peron Filho, trabalham em um projeto para atender um público maior de pessoas com as delícias produzidas a partir do caju.